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Novo ciclo de alta da pecuária começa em 2007
Depois de quatro anos de intensos abates de matrizes, começa a haver escassez de animais de reposição. A partir de 2007, o abate de vacas e a produção de carne bovina devem diminuir, com recuperação dos preços do boi gordo.A análise do especialista Victor Nehmi é destaque no AnualPec 2007, lançado neste mês pelo Instituto FNP e a AgraFNP.
Os movimentos cíclicos de abate de matrizes de gado de corte são conhecidos não só no Brasil. Entre
1996 e 1997 a matança de vacas foi extraordinariamente grande. Nos cinco anos seguintes houve escassez de bezerros, retenção de fêmeas e baixa produção de carne bovina. A partir de 2003, o quadro se repetiu, com novo crescimento no abate de matrizes que se estima ter durado até o final de 2006. Desde os primeiros meses de 2007 os animais de reposição se tornaram escassos. Como padrão dos ciclos, deve-se seguir uma crescente retenção de matrizes e queda da produção de carne bovina no País.
As flutuações na produção de carne bovina estão intimamente associadas à maior proporção de vacas nos frigoríficos. Quando o rebanho se estabiliza, o abate de fêmeas limita-se a matrizes descartadas no processo de produção, seja por velhice ou por infertilidade. No atual estágio da pecuária brasileira, o equilíbrio se dá quando o abate de fêmeas equivale a mais ou menos 45% do total.
Quando o índice de abate de fêmeas (veja o quadro Abates de fêmeas, na página 68 desta edição) ultrapassa 45%, o rebanho está sendo reduzido. Se a taxa ficar abaixo de 45%, significa que parte das matrizes foi poupada, portanto o rebanho está crescendo. Entre 1998 e 2002, a taxa de abate ficou abaixo dos 45%, por isso houve crescimento do rebanho nacional.

O Quadro 1 mostra que a partir de 2003 as taxas de abate de matrizes superaram 45%. Em conseqüência,
diminui a oferta de bezerros. E em seguida advêm quedas no tamanho do rebanho e declínio da produção de carne bovina. A escassez de animais de reposição e a diminuição dos abates de fêmeas devem perdurar
até 2009, pelo menos.
A elaboração de estatísticas sobre os abates e o rebanho bovino no Brasil é um processo lento e recheado de incertezas. Por isso utiliza-se outra forma para observar se o abate de matrizes é excessivo: verifica-se a diferença entre os preços da vaca e do boi gordo. Existe uma relação direta entre o aumento do abate de fêmeas e o deságio dos preços destas em relação aos do boi gordo.
Observa-se no Quadro 1 que o estoque de fêmeas aptas à reprodução atingiu o pico de 75 milhões a 76 milhões de cabeças em 2003. A projeção do Instituto FNP (iFNP) indica um patamar de 66 milhões de matrizes no final do ciclo de abates, em 2007.
A redução no estoque de matrizes deverá resultar no encolhimento da oferta de bezerros entre 2007 e 2009.
Prevê-se uma diminuição da ordem de 5 milhões de cabeças, entre bezerros e bezerras. Deverá haver grande valorização dos animais de reposição. E pode-se esperar uma retenção de fêmeas já a partir de 2007, mais acentuada em 2008 e 2009.
Menos vacas para abate significa menor produção de carne bovina. A redução esperada na oferta em relação
ao pico de produção de 2006 é de até 900 mil toneladas de equivalente carcaça. O consumo doméstico potencial deverá crescer apenas de modo vegetativo, ou seja, na mesma proporção do aumento da população. Mas o crescimento potencial das exportações é forte. Oferta menor e demanda intensa elevam os preços, resultando em uma nova fase de alta do ciclo pecuário. Os preços determinam o equilíbrio entre oferta e demanda. Na fase de alta do ciclo da pecuária, os preços sobem até alcançar o novo patamar de equilíbrio.
Também devem ser retomados os investimentos em produção e produtividade, que foram minguando conforme os preços do boi gordo caíam. A diminuição que ocorre quando os preços caem é chamada de fase de descapitalização da atividade. Cortam-se praticamente todos os investimentos e também se restringe ao máximo o uso de fatores de produção, sejam recursos humanos ou insumos. Essa foi a causa da frustração das metas de vendas da maioria dos fornecedores de insumos para o setor de 2003 a 2006. Houve declínio nas vendas de touros, de arames, de medicamentos, de fertilizantes, de sementes, de máquinas e até de sais minerais.
As fases de baixa do ciclo são favoráveis para os frigoríficos. O aumento da oferta de gado para abate diminui a competição por matéria-prima e permite aumentar a escala de produção das indústrias. Nas fases de baixa, há um aumento das margens de lucro dos frigoríficos.
Também o segmento de recria e engorda tem algum benefício, ou pelo menos uma perda menor que o de cria, nas fases de baixa. Os preços do boi gordo caem, mas os dos bezerros caem muito mais. Nessas épocas, também chamadas ciclos de baixa, a relação de troca do boi gordo chega a 1:3. Um boi gordo, mesmo sendo mais barato, vale o mesmo que três bezerros. No ciclo de alta, a relação tende a ser pior que 1:2. O boi gordo tem melhor preço, mas vale menos que dois bezerros.
A oferta de bezerros em 2007 deverá ser sensivelmente menor que em 2006. A redução prevista é de 800 mil cabeças, entre machos e fêmeas. O número de desmamados em 2006 foi de 46,5 milhões. Em 2007
deverá limitar-se a 45,7 milhões de animais. Nos dois anos seguintes, 2008 e 2009, a situação tende a se agravar, pois os desmames devem cair para o patamar de 42 milhões de cabeças. Em relação a 2006, a redução será de 4,5 milhões de animais (bezerros e bezerras).
A demanda mundial está aquecida e deve aumentar ainda mais até 2009. Isso permite supor que haverá forte recuperação dos preços da pecuária nesse período. Espera-se até mesmo que supere os recordes históricos anteriores. Não há como mudar esse quadro. Se, no tempo certo, tivessem sido tomadas medidas anticíclicas, teria sido possível evitar a alta geral dos preços da pecuária que se avizinha. Como nada foi feito, o movimento cíclico continua e agora começa a fase de alta.
O cenário dos próximos anos para pecuária de corte brasileira é de recuperação de preços e retomada de investimentos tanto no aumento da produção quanto no da produtividade.

Figura 1 – Relação de troca: boi gordo x bezerro de 8 a 12 meses em SP de descapitalização da atividade. Cortam-se praticamente todos os investimentos e também se restringe ao máximo o uso de fatores de produção, sejam recursos humanos ou insumos. Essa foi a causa da frustração das metas de vendas da maioria dos fornecedores de insumos para o setor de 2003 a 2006. Houve declínio nas vendas de touros, de arames, de medicamentos, de fertilizantes, de sementes, de máquinas e até de sais minerais. As fases de baixa do ciclo são favoráveis para os frigoríficos. O aumento da oferta de gado para abate diminui a competição por matéria-prima e permite aumentar a escala de produção das indústrias. Nas fases de baixa, há um aumento das margens de lucro dos frigoríficos.
Victor Abou Nehmi Filho
eng. agrônomo
victor@fnp.com.br
Instituto FNP: 11 4504-1414
www.fnp.com.br
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